Por Alexandre Luzzi
Ao
escrever seu primeiro livro (YOUR HEALTH, 1934) Joseph Pilates, ainda na introdução,
deixa claro seu propósito:
Percorrendo
seus argumentos e proposições teóricas, posso destacar dois motivos para tal
precariedade:
·
Desvio
de uma ordem natural.
·
Desequilíbrio
entre o corpo e a mente.
O que
significam tais proposições na visão de Joseph Pilates? Na verdade essas duas
proposições relacionam-se diretamente, como afirma o próprio autor:
“Agora é o momento para promover um comitê composto
de personagens influentes, com o propósito de investigar o triste e deplorável
estado de ignorância existente em relação a uma das mais simples, se não a mais
simples lei da natureza – o equilíbrio do corpo e da mente – e a ausência de
sua aplicação prática em nossos programas atuais de educação física e
treinamento.” (pg. 41)
Percebemos
no parágrafo acima que o desvio de uma ordem natural da qual se refere Joseph
Pilates é justamente o paradigma responsável pela cisão entre mente e
corpo. Nesse caso, resta-nos entender
duas questões: No que consiste equilibrar corpo e mente? Como o Pilates pode
ajudar nesse processo?
Para a
primeira pergunta, Joseph Pilates responde claramente:
“O
que é o equilíbrio do corpo e da mente? É o controle consciente de todos os
movimentos musculares do corpo. É a correta utilização e aplicação dos
princípios de força, de alavanca, proporcionados pela compressão dos ossos que
compõem a armação óssea do corpo, um completo conhecimento do mecanismo do
corpo, e uma compreensão integral dos princípios de equilíbrio e gravidade tal
como aplicados aos movimentos do corpo em movimento, em repouso e dormente.”
(pg. 42)
É
muito interessante a visão de Pilates, pois ele coloca como base da integração
entre corpo e mente a consciência do movimento no espaço e de todas as linhas
de força que o afetam, colaborando, por exemplo, com o pensamento de Moshe
Feldenkrais quando afirmava que o movimento ocupa o sistema nervoso mais que
qualquer outra coisa, porque não podemos perceber, sentir, ou pensar, sem uma
série de ações complexas elaboradas, iniciadas pelo cérebro, para manter o
corpo contra a força da gravidade; ao mesmo tempo devemos saber onde estamos e
em que posição. Para saber nossa posição no campo da gravidade, relativamente à
de outros corpos, ou para mudá-la, devemos usar nossos sentidos, nosso
sentimento e nossa força de pensamento.
Para
esses autores, movimentar-se de forma consciente, com atenção, controle,
precisão, é o alicerce para uma proposta integrativa entre motricidade,
afetividade e cognição. Joseph Pilates antevia que o predomínio exagerado de
uma dessas funções era algo extremamente prejudicial ao homem, já prevendo
naquela época todos os problemas de causas hipocinéticas que hoje acometem
inúmeras pessoas, veja:
“Nestes tempos, com um treinamento mental cada
vez maior, o sistema humano está mais e mais dependente da vitalidade do corpo,
que é ela mesma dependente da absoluta coordenação do corpo e da mente –
perfeito equilíbrio!” (pg. 41)
Pilates
justificava seu sistema de exercícios a partir de uma proposta de saúde
ancorada na indissociabilidade entre corpo e mente, razão e emoção, postura
correta e estados afetivos positivos. Segundo (Filho e Garcia, 2012), Pilates
sempre relacionou a postura correta com os estados de ânimo positivos, como
confiança, segurança e credibilidade. Uma de suas célebres frases resume suas
convicções a esse respeito:
“A boa condição física é o primeiro requisito
para a felicidade”.
Todo
hábito está ancorado em um padrão associativo entre músculos mobilizados,
sensações, sentimentos e pensamentos. Devido à grande proximidade entre o
córtex motor do cérebro e as estruturas que se relacionam com pensamento,
sentimento, e à tendência dos processos dos tecidos do cérebro para se
difundirem e espalharem aos tecidos vizinhos, uma mudança drástica no córtex
motor terá efeitos paralelos no pensamento e no sentimento, afirma
Feldenkrais. Para este autor, assim como para Joseph Pilates, é muito mais
fácil efetuar mudanças afetivas e cognitivas a partir de uma reorganização do
córtex motor e de seus padrões, dada a importância que a representação do corpo
possui nos processos do sentir, pensar e principalmente na consciência.
Em
última análise, Joseph Pilates entendia que ser saudável possuía o sentido de
uma ação autônoma do sujeito para com ele mesmo utilizando o movimento consciente
como uma ferramenta para o auto-aperfeiçoameto resultando em um corpo mais harmonioso
e integrado.
RFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1.
Feldenkrais,
Moshe – Consciência pelo movimento (tradução de Daisy A. C. Souza); São Paulo,
Summus, 1977.
2.
Pilates,
Joseph Hubertus – Escritos: The authentic Pilates Studio Brasil, 2012. 228p.
3.
Kolyniak
Filho, Carol; Garcia, Inelia Ester – O autêntico método Pilates de
Condicionamento físico e mental (contrologia): Contribuições para uma fundamentação
teórica. São Paulo: The authentic Pilates Studio Brasil, 2012. 2⁰ edição.