terça-feira, 1 de julho de 2014

RESPIR-AÇÕES (A respiração no Pilates clássico) Por Alexandre Luzzi


Se prestarmos bastante atenção na fundamentação teórica deixada por Joseph Pilates chegaremos à conclusão de que a contrologia configura-se como um sistema de exercitação cujas características convergem para a realização de um princípio fundamental: a unidade psicofísica, ou seja, a unidade corpo-mente.

Ora, não seria justamente a respiração o elo entre o físico e o mental? Todos nós sabemos da importância dada à respiração dentro do Pilates, no entanto é fundamental nos debruçarmos sobre a seguinte questão: respiração realmente é algo que se ensina?

Para responder essas perguntas é muito importante que tenhamos consciência da ligação entre respiração e mecânica corporal. Segundo alguns autores como Souchard (1989) e Campignion (1998), a respiração relaciona-se diretamente com a postura corporal, já que o diafragma, principal músculo da respiração, desempenha um papel decisivo para o controle postural. Suas inserções nas costelas, esterno, e coluna dorso-lombar comprometem-no tanto com a biomecânica da caixa torácica quanto com a organização da coluna vertebral.

Além dos aspectos mecânicos, sabemos das indiscutíveis associações entre respiração e aspectos emocionais e destes com as questões posturais. Nesse sentido entendemos que toda postura corporal reflete uma postura de vida, intrincada com aspectos psíquicos, biomecânicos e comportamentais. Sendo assim, talvez a receita de como se deve respirar pode se tornar perigosa podendo ser experimentada como um aprisionamento ou constrangimento da expressão pessoal.

Dessa forma chegamos a uma primeira conclusão: diferentemente do que imagina o senso comum, não concordamos com a premissa de que podemos ensinar as pessoas a respirar. A respiração não se ensina ou se aprende, ela se libera, dizia Mézières. Sabemos que a respiração cumpre melhor a sua função de oxigenação dos tecidos quando ela se dá livre de entraves. É por aí que devemos orientar nosso trabalho com o Pilates.

 Antes de nos preocuparmos com o ato inspiratório ou expiratório devemos nos envolver com o movimento organizado. Ou seja, se nossos gestos possuem um equilíbrio entre os grupos musculares que o realizam, a respiração acontece com essa mesma qualidade de equilíbrio.

Isso não significa que o Pilates não vá propor certos exercícios respiratórios como técnicas de conscientização respiratória, exercícios respiratórios associados à estabilização da coluna, padrão respiratório direcionado para um exercício específico, padrão respiratório específico em função da organização corporal de um aluno, seu nível de trabalho, ou mesmo uma patologia, porém não podemos esquecer que nosso objetivo final é manter uma respiração calma, silenciosa, fluida, tridimensional e principalmente espontânea.

Jay Grimes, aluno da primeira geração de Joseph Pilates, diz: “Respire como se estivesse caminhando pela calçada”. Peter Fiasca, certificado por Romana Kryzanowska, em seu livro, “Descobrindo o Pilates clássico Puro”, considera que como tradicionalistas, nossa meta não consiste em criar ou aderir a nenhuma fórmula rígida e que cada movimento deve corresponder a um padrão particular de respiração.

Como exemplo, podemos citar o exercício coordination, demonstrado abaixo. Neste exercício demarcamos 3 fases da respiração: na posição 2 inspiramos o ar, na posição 3 retemos o ar por três segundos, apenas para realizar o movimento de afastamento das pernas, já na posição 4 voltamos primeiramente pernas e em seguida braços, expirando o ar.

De maneira geral é muito importante entendermos que a respiração é um elemento que pode ser utilizado de diversas maneiras conforme o aluno e a situação proposta, porém, pouco a pouco nosso objetivo principal é que não precisemos mais pensar nela, que fique naturalmente eficiente de forma involuntária.

Pense na frase abaixo e boa prática!!!!

“Em determinadas atividades, mesmo muito complexas... só a respiração espontânea harmoniza bem com o movimento”. (Blandine Calais-Germain)




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