Se prestarmos bastante atenção na
fundamentação teórica deixada por Joseph Pilates chegaremos à conclusão de que
a contrologia configura-se como um sistema de exercitação cujas características
convergem para a realização de um princípio fundamental: a unidade psicofísica,
ou seja, a unidade corpo-mente.
Ora, não seria justamente a respiração o elo
entre o físico e o mental? Todos nós sabemos da importância dada à respiração
dentro do Pilates, no entanto é fundamental nos debruçarmos sobre a seguinte
questão: respiração realmente é algo que se ensina?
Para responder essas perguntas é muito
importante que tenhamos consciência da ligação entre respiração e mecânica
corporal. Segundo alguns autores como Souchard (1989) e Campignion (1998), a
respiração relaciona-se diretamente com a postura corporal, já que o diafragma,
principal músculo da respiração, desempenha um papel decisivo para o controle
postural. Suas inserções nas costelas, esterno, e coluna dorso-lombar
comprometem-no tanto com a biomecânica da caixa torácica quanto com a
organização da coluna vertebral.
Além dos aspectos mecânicos, sabemos das
indiscutíveis associações entre respiração e aspectos emocionais e destes com
as questões posturais. Nesse sentido entendemos que toda postura corporal
reflete uma postura de vida, intrincada com aspectos psíquicos, biomecânicos e
comportamentais. Sendo assim, talvez a receita de como se deve respirar pode se
tornar perigosa podendo ser experimentada como um aprisionamento ou
constrangimento da expressão pessoal.
Dessa forma chegamos a uma primeira
conclusão: diferentemente do que imagina o senso comum, não concordamos com a
premissa de que podemos ensinar as pessoas a respirar. A respiração não se
ensina ou se aprende, ela se libera, dizia Mézières. Sabemos que a respiração
cumpre melhor a sua função de oxigenação dos tecidos quando ela se dá livre de
entraves. É por aí que devemos orientar nosso trabalho com o Pilates.
Antes
de nos preocuparmos com o ato inspiratório ou expiratório devemos nos envolver
com o movimento organizado. Ou seja, se nossos gestos possuem um equilíbrio
entre os grupos musculares que o realizam, a respiração acontece com essa mesma
qualidade de equilíbrio.
Isso não significa que o Pilates não vá
propor certos exercícios respiratórios como técnicas de conscientização
respiratória, exercícios respiratórios associados à estabilização da coluna,
padrão respiratório direcionado para um exercício específico, padrão
respiratório específico em função da organização corporal de um aluno, seu
nível de trabalho, ou mesmo uma patologia, porém não podemos esquecer que nosso
objetivo final é manter uma respiração calma, silenciosa, fluida, tridimensional
e principalmente espontânea.
Jay Grimes, aluno da primeira geração de
Joseph Pilates, diz: “Respire como se estivesse caminhando pela calçada”. Peter
Fiasca, certificado por Romana Kryzanowska, em seu livro, “Descobrindo o Pilates clássico Puro”, considera que como
tradicionalistas, nossa meta não consiste em criar ou aderir a nenhuma fórmula
rígida e que cada movimento deve corresponder a um padrão particular de
respiração.
Como exemplo, podemos citar o exercício coordination, demonstrado abaixo. Neste
exercício demarcamos 3 fases da respiração: na posição 2 inspiramos o ar, na
posição 3 retemos o ar por três segundos, apenas para realizar o movimento de
afastamento das pernas, já na posição 4 voltamos primeiramente pernas e em
seguida braços, expirando o ar.
De maneira geral é muito importante
entendermos que a respiração é um elemento que pode ser utilizado de diversas
maneiras conforme o aluno e a situação proposta, porém, pouco a pouco nosso
objetivo principal é que não precisemos mais pensar nela, que fique
naturalmente eficiente de forma involuntária.
Pense na frase abaixo e boa prática!!!!
“Em
determinadas atividades, mesmo muito complexas... só a respiração espontânea
harmoniza bem com o movimento”. (Blandine Calais-Germain)
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