segunda-feira, 7 de julho de 2014

O conceito de saúde nas obras de Joseph Pilates

Por Alexandre Luzzi

Ao escrever seu primeiro livro (YOUR HEALTH, 1934) Joseph Pilates, ainda na introdução, deixa claro seu propósito:

 “é transmitir, de uma forma simples, as causas da saúde precária e das condições imorais dos dias de hoje, bem como seus efeitos, que afastam o homem médio da obtenção de sua perfeição física – um direito inato ao homem.” (pg. 25)

 

Percorrendo seus argumentos e proposições teóricas, posso destacar dois motivos para tal precariedade:
 
·         Desvio de uma ordem natural.
 
·         Desequilíbrio entre o corpo e a mente.

O que significam tais proposições na visão de Joseph Pilates? Na verdade essas duas proposições relacionam-se diretamente, como afirma o próprio autor:
 

 “Agora é o momento para promover um comitê composto de personagens influentes, com o propósito de investigar o triste e deplorável estado de ignorância existente em relação a uma das mais simples, se não a mais simples lei da natureza – o equilíbrio do corpo e da mente – e a ausência de sua aplicação prática em nossos programas atuais de educação física e treinamento.” (pg. 41)

 

Percebemos no parágrafo acima que o desvio de uma ordem natural da qual se refere Joseph Pilates é justamente o paradigma responsável pela cisão entre mente e corpo.  Nesse caso, resta-nos entender duas questões: No que consiste equilibrar corpo e mente? Como o Pilates pode ajudar nesse processo?

Para a primeira pergunta, Joseph Pilates responde claramente:

 
“O que é o equilíbrio do corpo e da mente? É o controle consciente de todos os movimentos musculares do corpo. É a correta utilização e aplicação dos princípios de força, de alavanca, proporcionados pela compressão dos ossos que compõem a armação óssea do corpo, um completo conhecimento do mecanismo do corpo, e uma compreensão integral dos princípios de equilíbrio e gravidade tal como aplicados aos movimentos do corpo em movimento, em repouso e dormente.” (pg. 42)
 
 
É muito interessante a visão de Pilates, pois ele coloca como base da integração entre corpo e mente a consciência do movimento no espaço e de todas as linhas de força que o afetam, colaborando, por exemplo, com o pensamento de Moshe Feldenkrais quando afirmava que o movimento ocupa o sistema nervoso mais que qualquer outra coisa, porque não podemos perceber, sentir, ou pensar, sem uma série de ações complexas elaboradas, iniciadas pelo cérebro, para manter o corpo contra a força da gravidade; ao mesmo tempo devemos saber onde estamos e em que posição. Para saber nossa posição no campo da gravidade, relativamente à de outros corpos, ou para mudá-la, devemos usar nossos sentidos, nosso sentimento e nossa força de pensamento.

Para esses autores, movimentar-se de forma consciente, com atenção, controle, precisão, é o alicerce para uma proposta integrativa entre motricidade, afetividade e cognição. Joseph Pilates antevia que o predomínio exagerado de uma dessas funções era algo extremamente prejudicial ao homem, já prevendo naquela época todos os problemas de causas hipocinéticas que hoje acometem inúmeras pessoas, veja:
 

 “Nestes tempos, com um treinamento mental cada vez maior, o sistema humano está mais e mais dependente da vitalidade do corpo, que é ela mesma dependente da absoluta coordenação do corpo e da mente – perfeito equilíbrio!” (pg. 41)

 
Pilates justificava seu sistema de exercícios a partir de uma proposta de saúde ancorada na indissociabilidade entre corpo e mente, razão e emoção, postura correta e estados afetivos positivos. Segundo (Filho e Garcia, 2012), Pilates sempre relacionou a postura correta com os estados de ânimo positivos, como confiança, segurança e credibilidade. Uma de suas célebres frases resume suas convicções a esse respeito:

 
“A boa condição física é o primeiro requisito para a felicidade”.

 
Todo hábito está ancorado em um padrão associativo entre músculos mobilizados, sensações, sentimentos e pensamentos. Devido à grande proximidade entre o córtex motor do cérebro e as estruturas que se relacionam com pensamento, sentimento, e à tendência dos processos dos tecidos do cérebro para se difundirem e espalharem aos tecidos vizinhos, uma mudança drástica no córtex motor terá efeitos paralelos no pensamento e no sentimento, afirma Feldenkrais. Para este autor, assim como para Joseph Pilates, é muito mais fácil efetuar mudanças afetivas e cognitivas a partir de uma reorganização do córtex motor e de seus padrões, dada a importância que a representação do corpo possui nos processos do sentir, pensar e principalmente na consciência.

Em última análise, Joseph Pilates entendia que ser saudável possuía o sentido de uma ação autônoma do sujeito para com ele mesmo utilizando o movimento consciente como uma ferramenta para o auto-aperfeiçoameto resultando em um corpo mais harmonioso e integrado.

RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1.    Feldenkrais, Moshe – Consciência pelo movimento (tradução de Daisy A. C. Souza); São Paulo, Summus, 1977.

2.    Pilates, Joseph Hubertus – Escritos: The authentic Pilates Studio Brasil, 2012. 228p.

3.    Kolyniak Filho, Carol; Garcia, Inelia Ester – O autêntico método Pilates de Condicionamento físico e mental (contrologia): Contribuições para uma fundamentação teórica. São Paulo: The authentic Pilates Studio Brasil, 2012. 2 edição.

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